sábado, 4 de maio de 2013
Sobre ensaios (2)
[seguindo do dia 03/02]
No último ensaio, estávamos eu, Luísa e Ian. Lorrana decidiu não continuar. Ok, quer dizer, o que podíamos fazer a respeito fizemos, agora é seguir adiante. Chamei Reinoso, mas não sei se bebeu demais e não conseguiu acordar ou o que. O caso foi que não apareceu nem atendeu o celular. Tudo bem. Tudo bem agora, quer dizer, quando aí não está exatamente dentro. Sem contrato meio assim digo. Da última vez tínhamos trabalhado “o que é angústia”, dessa vez, fizemos “o que é felicidade”. Creio que nessa semana foram melhor os dois na improvisação, talvez também pela soltura oriunda da ideia geral que se faz de como se pode expressar corporalmente a felicidade. A angústia tenderia, de certa maneira, a ser menos móvel que a felicidade. Claro que não necessariamente, mas me pareceu que algo nesse sentido possa ter acontecido com Luísa e Ian. Lorrana foi muito mais móvel na semana passada que eles. Não que ser estático seja ruim, não é nada a princípio, mas no caso dos dois, acho que deu uma atrapalhada pra eles descobrirem coisas bacanas.
Tive grandes dificuldades de trabalhar com o tema da felicidade. Talvez seja difícil colocar alguém feliz no palco, simplesmente feliz, estado esse que não tenha sido precedido ou que seja seguido por uma desgraça. Ou então não tratar alguém feliz como um idiota, ou não ridicularizar sua felicidade, ou não mostra-lo ignorante de algo grave, ou não ser louco, enfim, é difícil mostrar uma alegria impune em cena. Geralmente, o que vemos é sempre uma alegria sofrida, sempre pra ser algo bonito – no sentido de ele é alegre apesar de ter sofrido provações ou ele foi alegre por um tempo até que aconteceu isso aí. Enfim redizendo o que disse acima. O que vivo e creio ser o mesmo para vários, mesmo porque Vinícius de Moraes já deu a dica propositiva perpetuada na canção: a alegria se mostra na experiência como fugaz e episódica, enquanto que a angústia é via de regra.
De modo que a cena a que chegamos por mais que seja extremamente idiota, por causa das ações da Luísa e do Ian que escolhi, elas são cheias de certa tristeza. Porque o que prevalece ao fim não são os movimentos nervosos. Mas uma interrupção da felicidade. A Luísa, primeiro faz umas danças, até que para “Me arrependi”, recomeça quase imediatamente após dizer, num movimento igualmente rápido, mas em sua forma é diferente do que fazia antes, até que termina voltando para o anterior, e novamente o interrompe diz, mais reflexiva “uma cara sossegada. A mesma que vejo todos os dias”. O Ian fazia umas apontações pro pé, pra cima, ia ao fundo, voltava com movimentos de bunda, sons idiotas, virava-se “Evidentemente sou um sujeito feliz”, ia em direção à parede dançando de modo estúpido, ainda mais se considerando que não havia música, parava-se, “Feliz e imóvel” voltava, era interrompido por algo em sua boca que tentava tirar, e até o fim da cena não conseguia.
Ou seja, na cena, é possível ler, a felicidade não consegue se manter contínua. É interrompida.
(nada de novo sob o sol, mas estamos na torcida)
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