segunda-feira, 29 de abril de 2013

referências (1)

"(...) Deve-se reconhecer que o homem é um ser falho. Provavelmente nunca será possível harmonizar seu consciente, que é do seu espírito, com sua natureza, sua realidade, sua condição social, e sempre haverá uma 'insônia honrosa' naqueles que, por qualquer razão obscura, se sintam responsáveis pelo destino e pela vida do homem. Se houve alguém que dela sofreu, este foi o artista Tchekov, e toda a sua poesia era uma insônia honrosa, a procura pela resposta certa e salvadora à pergunta: 'O que devemos fazer?' Este termo era difícil de encontrar, se é que isso em geral é possível. Só uma coisa ele sabia com certeza: que a ociosidade e o deixar de trabalhar significam exploração e opressão. No conto A Noiva, aquele Sacha, que também, como Tchekov, é tuberculoso e deve morrer, diz a Nádia, que também não consegue dormir:

Compreenda pois: se sua mãe e sua avó nada fazem, significa que se aproveitam da vida do seu próximo, e será que isso é decente, não é uma injustiça?... Minha cara, vá embora! Mostre a todos que está farta desta vida impossível, cinzenta e pecaminosa! Mostre-o a si mesma! ...Juro que não se arrependerá. Vá embora. Vá estudar e deixar o destino guiá-la. Tão logo remodele a sua vida, tudo será diferente. O principal é remodelar a vida, todo o resto é secundário. Então vamos embora amanhã?

E Nádia realmente vai embora. Ela abandona sua família, seu noivo fútil, desiste do casamento e foge. É uma fuga das ligações com a classe, de uma forma de vida que sente ser atrofiada, falsa e 'pecaminosa', que muitas vezes se repete nas histórias de Tchekov, a mesma fuga que o velho Tolstoi empreendeu ainda no último instante".

MANN, Thomas. Ensaio Sobre Tchekov. In: Ensaios. Seleção de Anatol Rosenfeld. São Paulo: Perspectiva, 1988. pp. 54-55

e

The The - Jealous of Youth

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