O Grupo TARJa convida os amigos para o primeiro tratamento de INSÔNIA,
projeto que vem desenvolvendo desde o final do ano passado. Baseado no
conto homônimo de Graciliano Ramos e na peça Dias felizes, de
Samuel Beckett, o espetáculo, com direção de Felipe Sut, está sendo
construído a partir dos experimentos que o grupo desenvolve em sala de
ensaio. Essas duas primeiras apresentações abertas ao público
funcionarão como uma pequena mostra de processo que, a partir da
recepção do público ao que é proposto, alimentará a criação. Com estréia
prevista para novembro, INSÔNIA conta com um elenco formado por Ian
Capillé, Laura Collor e Rodrigo Reinoso. Contamos com a presença de
todos!
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quarta-feira, 18 de setembro de 2013
domingo, 21 de julho de 2013
Hoje
Ontem eu perdi a maior
parte do meu cérebro. Nada podia respirar dentro da roupa, nada
podia respirar dentro dela, nada nada nada nada achava ar buf, acorda
marinheiro, nada marinheiro, voa marinheiro – era isso que eu
pensava quando a britadeira destruiu o meu hipotálamo, abriu as
minhas sinapses com a força do ferro encardido de um ferro velho,
velho, velho estilo, velho hábito de me sentir velho de me sentir
grande demais, magro demais, ian demais, muito demais demais,
demasiadamente nada: a ilha perdida, onde todas as coisas vão parar
era a minha coleção indiscutivelmente grande (demasiada) de
minúcias gestos tudos que não cabiam, nada cabia, nada podia
respirar: explodia com o choque tremendo do ferro velho nos miolos,
fundia a cabeça, fudia com tudo...
Quando os miolos e todo
o sangue foram vistos pelo mesmo aparelho destruído, o mesmo
destruído náufrago das ondas cerebrais das correntes de estilo de
maneirismos surrealistas (aquelas mesmas naves, aquelas mesmas vezes
que tentamos juntos navegar, trocar, se olhar nos olhos antes do
brinde, tudo isso que preenche o estômago e os pulmões e que
sufocam e acabam vomitados pra fora com nervos e sangue quando a
gente explode a testa com uma britadeira ou com uma arma); quando
eles foram vistos sentou-se de pernas retas longilíneas pernas
retas, as mesmas que vejo todos os dias, e todo o corpo ardia como um
impulso, como uma agulha na ponta do pênis. Não, não como uma
agulha, como uma mordida na ponta do pênis depois de uma chupada sua
sua sua sua sua sua sua sua sua sua sua sua: você é um monstro,
você eu é um monstro horrível e sem miolos, sem sinapses sensível:
se.
Não se pode acordar
porque não se pode dormir; não se pode dormir porque não se pode
acordar também seria correto, também. Amei as suas juntas juntas
com as minhas, com a respiração conjunta de um bicho morto
agonizante agonia demais demais. Só via você, só te ouvia, só só
só só só só só... Aceita? Não. Não não é isso que você está
pensando, eu não estou pensando, é isso sim, mas se você souber
que é, deixa de sê-lo no mesmo instante, deixa pra lá não é
mesmo não. Não sei, na verdade, talvez seja.
Se um dia você fizer
como eu ontem e explodir como um zepelin a hélio, como um gás
inflamável de um desodorante, lembre de não queimar os cabelos,
eles você preserva, eles cuidam de você, da sua cabeça, pra no dia
seguinte você não aparecer desfigurado sem um pedaço imenso do
crânio faltando com nada dentro nada dentro da cachola e dos
pulmões. Nada.
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
"Sim ou não?"
Entre os processos mais massantes de compreensão de um Texto está aquele compreendido por comentários ou notas que atravessam todo o material, normalmente produzidos por algum sapiente especialista no assunto. Esse processo, quando nós mesmos o executamos, chamamos de fichamento.
Foi assim que o Sut apresentou-nos, a mim e ao Reinoso, no último ensaio, uma leitura dos primeiros parágrafos do conto, interrompidos por comentários (melhor seria dizer pensamentos, por representar uma coisa menos elaborada, mas como essa palavra tem um forte sentido abstrato, preferi algo mais tangível) seus escritos em um caderno.
Ainda que massante, essa abordagem revelou-se... reveladora.
Assim, decidi fazer o mesmo e ir soltando tudo o que me vem à cabeça quando leio os três primeiros parágrafos, sem muito crivo. Num primeiro momento, isso parece um tanto presunçoso, como se qualquer coisa que eu pense fosse interessante de ser compartilhada. Lógico que, muitas vezes, não são; mas, até onde eu compreendi, o objetivo desse blog é mesmo dizer as coisas para depois desdizê-las. Então vamos.
Primeiro, antes da leitura dos três capítulos, tentei resumir o conto na minha cabeça em poucas frases. Insônia trata de um personagem acordado e mantido em vigília por uma pergunta - sim ou não - que lhe vem à cabeça sem causa aparente. Seu desejo é voltar a dormir, mas não consegue diante dessa dúvida.
Assim, de cara, temos uma ação totalmente não-dramática (algo que soa meio contraditório, visto que a tradução mais usual para "drama" é "ação"...) uma vez que o único conflito é do personagem com seu próprio pensamento. Não sei se é uma aproximação totalmente forçada, se são os estudos que estamos fazendo desde o começo da montagem de "Horácio" e que eu permaneço fazendo com a montagem de "Ofélia", mas, nesse sentido, o personagem me lembra Hamlet. Vou tentar levar as coisas nessa direção pra depois ver quais são as consequências.
Ao conto:
1) "Sim ou não? [uma espécie de ser ou não ser levada ao mínimo? (como Michel Melamed brinca em Regurgitofagia, que todas as dúvidas, no fim, são apenas sim ou não).] Esta pergunta surgiu-me [não há nenhuma causa] de chofre no sono profundo e acordou-me. [e se a narrativa for mais alegórica (detesto essa palavra)? Que sono profundo é esse do qual ele se desperta por conta dessa pergunta? É forçado dizer que esse DESPERTAR quer dizer mais do que um acordar de madrugada? Se não, é novamente um possível paralelo com Hamlet...] A inércia findou num instante, o corpo morto levantou-se rápido, como se fosse impelido por um maquinismo. [o Sut lembrou da "máquina do meu corpo" da carta de Hamlet para Ofélia, uma curiosa maneira de separar corpo e mente. Aqui, é dúbio se o "maquinismo" é o próprio corpo ou algo externo ao corpo, embora pareça mais referir-se a um agente exterior que o levanta - a pergunta]"
2)"Sim ou não? Para bem dizer não era pergunta [?], voz interior ou fantasmagoria de sonho: [Hamlet é despertado pelo fantasma de seu pai - o sonho que invade a realidade; mas não creio que é isso que o narrador está descartando aqui. Ele continua:] era uma espécie de mão poderosa que me agarrava os cabelos e me levantava do colchão, brutalmente, me sentava na cama, arrepiado e aturdido. [acho que é semelhante ao despertar de Hamlet, o horror diante da dúvida que o fantasma de seu pai lhe coloca... é forçada essa minha interpretação?] Nunca ninguém despertou de semelhante maneira [o narrador claramente não concorda comigo...] Uma garra segurando-me os cabelos, puxando-me para cima, forçando-me a erguer o espinhaço [ele insiste nessa ideia meio cadavérica de uma mão (depois uma garra) que lhe puxa pelos cabelos para que acorde. É, no mínimo, uma imagem sinistra. Podemos visualizar bem esse movimento que começa pelos cabelos] e a voz soprava aos meus ouvidos, gritada aos meus ouvidos [antítese]: - Sim ou não?"
3)Nada sei [de onde veio essa aporia socrática? Hamlet diria isso de si mesmo, ainda que, claramente, soubesse muito? Ok, nem tudo precisa ser hamletiano...]: estou atordoado e preciso continuar a dormir, não pensar, não desejar, matéria fria e impotente. [ele, então, revela seu desejo: voltar a dormir e não pensar. Não deseja a dúvida essencial (sim ou não), mas a inércia do sono. Além disso, em algum lugar, essa frase me lembra Beckett, seja na construção meio desarticulada, seja no próprio campo semântico das palavras] Bicho inferior, planta ou pedra num colchão [imobilismo, parece]. De repente, a modôrra [essa é a grafia que eu tenho] cessou, a mola me suspendeu e a interrogação absurda me entrou nos ouvidos - Sim ou não? [é curioso que, agora, ele parece apresentar uma nova versão de como acordou - uma mola que o suspende; uma pergunta que lhe entra nos ouvidos - muito mais branda, menos violenta que a anteriormente descrita - a garra que lhe puxava os cabelos e gritava/soprava a dúvida. O que isso quer dizer, eu não sei...] Encostar de nôvo a cabeça ao travesseiro e continuar a dormir, dormir sempre ['dormir sempre' é forte, me voltam aquelas ideias de uma 'alegoria' com esses termos]. Mas o desgraçado corpo [xinga o próprio corpo ou sente-se exaurido e tem compaixão pelo seu corpo?] está erguido e não tolera a posição horizontal. Poderei dormir sentado? [a segunda dúvida, muito sintomática]
Bom, já está meio grande esse post.
Foram essas as minhas reflexões.
sábado, 16 de fevereiro de 2013
problemas
Bom, a história é que depois de ler Insônia,
um conto do Graciliano Ramos, nos ajuntamos sob minha sugestão na tentativa de
fazer alguma coisa com ele cenicamente falando. Bacana. Aí, fizemos alguns
ensaios (nós nesse caso significa uma parcela do TARJa), e começamos a levantar
a bola de fazer um blog pra fazer uma espécie de registro do processo. Eu vinha
escrevendo coisas a respeito dos ensaios que achei que talvez fossem
interessantes de se expor pra todo mundo, que talvez viesse a interessar. Ou
por outra, lidarmos com a ideia de que talvez alguém visse o que escrevêssemos
a respeito do que discutíssemos, e que tivéssemos aí que responder pelo que
disséssemos. Alguns fóruns ou coisa assim.
Quer dizer, em outras palavras, uma espécie
de depósito de impressões, mas que não tem a salva guarda própria de um diário
particular, em que cabe a você mesmo um movimento de crítica de si próprio, mas
lidar com a possibilidade da problematização provinda de outra pessoa. Tendo
sido a problematização feita ou não, o que pode ser meio paranoico. Mas não é
essa a questão. De tornarmo-nos paranoicos com relação à (ideia de) validade de
nossas ideias, quer dizer. Gostamos de pensar numa espécie de interpelação possível neste canal. De também nos interrompermos, e eventualmente quem sabe, o "retiro o que eu disse". Não se trata também de procurar registrar seja lá o
que for com a perspectiva de aquilo será de algum modo refutado e nos acusarão
de alguma coisa. Não, aí é melhor fazer outra coisa, ou simplesmente não fazer
este blog.
Mas a intenção que procurei expor pra Luísa,
Ian e Reinoso foi (que não precisei na verdade porque eles embarcaram na ideia
sem ser necessária a profusão de justificativas que julgava que tinha) a de um espaço
pra registrarmos coisas que pensamos a respeito desse processo para que
possamos lê-las e ter a clareza a seu respeito que não temos quando elas vagam pelo pensamento.
Isso mais o contato com quem está de fora.
Isso mais referências de textos e imagens que queiramos dividir com todos.
Enfim, mais o problema de saber se de fato vai ser interessante essa abertura
de processo.
Coisa que discutimos, a ideia de blog de
processo ou seja lá o que for de processo não é nada nova, e às vezes talvez
seja mais fácil aceitar a ideia antes de pensar, “bacana, mas e daí?”. Então, o
blog é pra tudo isso que eu falei acima, mais o fato de nos botarmos à prova:
se conseguimos fazer algo interessante pra nós e pra quem possa se interessar,
e se isso influi no processo da cena, ou melhor, no que fazemos quando vamos à cena. Tomara.
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