Laura
de Castro Collor concentra-se. Contentar-se, conter-se, deter-se, domar-se,
quedar-se, y en la casa que sin tí, quedó muy triste, nadie ocupará el lugar que tú tenias, porque se murió mi amor quando te fuistes, mas não se trata apenas
de amor. Não? Ok, já devia estar pensando sobre isso, essa coisa de ficar
protelando essas reflexões importantes que influem diretamente sobre as
direções (afinal, não sou eu o diretor?) da coisa, da coisa?, da peça, da
peça?, da obra, é algo que possivelmente não contribui pro curso das coisas,
dos fluxos. Eu talvez discorde.
Laura
concentra-se. Centra-se. Luz dilui-se adensa-se. Pensa-se. Ou não, a dica do
Burroughs. Sou onde não me penso, a do Lacan. E aí um cigarro. No Mary e Max,
aquela voz terrivelmente sensual do Phillip Seymour Hoffman dizendo que os
cigarros são mamilos maternos substitutivos. Pela desimportância com que fala,
ganha tanto poder. Freud já havia dito que às vezes um charuto é só um charuto.
Ainda concentra-se. Aquele olhar, eu estava ali, diante dela, olhando ela e
ele, o olhar, morto, amor morto motor da saudade, peixe em supermercado, olhando
os dois, o decote, e ele em outra parte, aquele corpo ali, mas em outra parte. Todo
um ser, um ente, um dasein, sei lá, um inconsciente, sugado pra fora. Aquela
boca aberta, todas as suas bocas abertas, babando. Sem baba, diferente de como
já nos serve, pé de página, a referência feminina-sexo-oralizante do Ramon. Mas
o corpo ali, porque o seu “Nada a expressar” segue o sentido de que o nada
precisa ser expresso. O cigarro. Mesmo sabendo que fumar causa câncer de
pulmão, acendemos cigarros, mesmo sabendo que as crianças começam a fumar
porque olham os adultos fumando, acendemos cigarros, mesmo sabendo que fumar causa
mau hálito e perda dos dentes, acendemos cigarros. Isso é o Mutarelli, como em
boa ressaca, eu às vezes o vomito. Não para expeli-lo, mas para estuda-lo. Os
sons. Aquilo dá um barato. O som não faz sentido, uma consequência toma conta
de mim, como se fosse um barato. Claro agora todo mundo cita Leminski, é uma
pena. E não ao mesmo tempo, mas em que medida não é um bíblia pop interrogação.
Chega.
Eu
devia ter roubado os sons dela pra cá. Pro meu computador. Eram coisas urbanas,
coisas aeroportuárias, e Castro concentra-se dilui-se adensa-se, lugares,
vários mas simultâneos, ela em silêncio, deter-se quedar-se (muy triste?),
can’t complain, mustn’t complain, de novo a letargia, de novo, que fazer com
este corpo. As mãos estendidas, ouvia-se uma máquina de escrever, sem a menção
ao Naked Lunch, me esvazio de considerações, as mãos estendidas, como é: a mão
do Willie, sim ou não, atrás do revólver ou da Winnie, socorro, as mãos
estendidas, tesas retesadas tensas, o olhar morto motor, de que, o que uma máquina
de escrever hoje, eu me lembro de você, quando você pegava aquela máquina, e
escrevia nela, você lembra disso?, claro, deve lembrar, era você, você
escrevia, você inventava coisas ali, pra mim era o mesmo que uma privada, mas
pra você devia ser alguma outra coisa, eu também me lembro de você mijando,
disso você não deve se lembrar, você faz isso o tempo todo, mas eu me lembro de
uma vez, você bêbado, eu entrei pra ver você mijar, você me viu, não levou
nenhum susto, nem riu, queria que você tivesse rido, eu teria gostado, mas eu
cheguei perto, do seu lado, e te vi nu, mijando.
Isso
não existe mais. Uma máquina de escrever. Ancestral remoto deste teclado.
Television. Lindo, quem é Todd Alcott? Look at me. Look. Isso. O olhar desde
sempre. Agora sim, dirija esse olhar a mim. É esse olhar. Requiem para um
sonho. Não a Sara Goldfarb, mas quase, não encantado, mas encanado, e não
desencana, o olhar, o Reality Show do Incal, do Moebius e do Jodorowsky, FEZES
E MIJO. É você. Esse olhar opaco. Você entendeu. Não, don’ t
look over there, there’s nothing to look at over there. You need to what? WHAT?
EAT? FINE! Nada de dor. Quase
nada.
Até
aqui sim. Agora coisas que não compreendo. Os movimentos repetidos. O levantar
a cabeça. Desconcentra-se, descentra-se, amua-se, amansa-se. Não compreendo
porque são claras demais, eu lembro do verbete enciclopédico que trata delas.
Tudo antes produzia esquecimento, agora eu me lembrava. Me lembrava da
compreensão convencionada pelo nervosismo do cigarro às pressas. Claro, é vital
lembrar do primeiro, não, não foi o primeiro, do segundo momento sem som. Este agora era o segundo
momento sem som da cena. No primeiro ela acendia um cigarro. No segundo,
nervosa, ela acende outros. Como é esse afeto? O silêncio? Perscrutar esse
vazio terrível.
E
as unhas, Laura? Eu não reparei, mas também isso não é bom? Afinal compunha,
era, existiu, talvez tenha servido mais pra ti que pra nós. Mas se serve, que
sirva. Seja como for, o amor é o amor. Mas, Leminski, merda, tem uma coisa
sobre a qual eu não quero falar. Mas tão logo escrevi, mudei de ideia, não:
talvez seja o caso de explorar como essas unhas. Se precisa, se não precisa, se
precisa ser notado ou não, ou o que.
esqueci da jaula.
ResponderExcluirErrata: Não é o Seymour Hoffman nem é em Mary e Max. É um letreiro em Harvey Krumpet, um de seus Fakts. Também do Adam Elliot.
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