terça-feira, 18 de junho de 2013

sobre ensaios (5), Laura

















Laura de Castro Collor concentra-se. Contentar-se, conter-se, deter-se, domar-se, quedar-se, y en la casa que sin tí, quedó muy triste, nadie ocupará el lugar que tú tenias, porque se murió mi amor quando te fuistes, mas não se trata apenas de amor. Não? Ok, já devia estar pensando sobre isso, essa coisa de ficar protelando essas reflexões importantes que influem diretamente sobre as direções (afinal, não sou eu o diretor?) da coisa, da coisa?, da peça, da peça?, da obra, é algo que possivelmente não contribui pro curso das coisas, dos fluxos. Eu talvez discorde.

Laura concentra-se. Centra-se. Luz dilui-se adensa-se. Pensa-se. Ou não, a dica do Burroughs. Sou onde não me penso, a do Lacan. E aí um cigarro. No Mary e Max, aquela voz terrivelmente sensual do Phillip Seymour Hoffman dizendo que os cigarros são mamilos maternos substitutivos. Pela desimportância com que fala, ganha tanto poder. Freud já havia dito que às vezes um charuto é só um charuto. Ainda concentra-se. Aquele olhar, eu estava ali, diante dela, olhando ela e ele, o olhar, morto, amor morto motor da saudade, peixe em supermercado, olhando os dois, o decote, e ele em outra parte, aquele corpo ali, mas em outra parte. Todo um ser, um ente, um dasein, sei lá, um inconsciente, sugado pra fora. Aquela boca aberta, todas as suas bocas abertas, babando. Sem baba, diferente de como já nos serve, pé de página, a referência feminina-sexo-oralizante do Ramon. Mas o corpo ali, porque o seu “Nada a expressar” segue o sentido de que o nada precisa ser expresso. O cigarro. Mesmo sabendo que fumar causa câncer de pulmão, acendemos cigarros, mesmo sabendo que as crianças começam a fumar porque olham os adultos fumando, acendemos cigarros, mesmo sabendo que fumar causa mau hálito e perda dos dentes, acendemos cigarros. Isso é o Mutarelli, como em boa ressaca, eu às vezes o vomito. Não para expeli-lo, mas para estuda-lo. Os sons. Aquilo dá um barato. O som não faz sentido, uma consequência toma conta de mim, como se fosse um barato. Claro agora todo mundo cita Leminski, é uma pena. E não ao mesmo tempo, mas em que medida não é um bíblia pop interrogação. Chega.

Eu devia ter roubado os sons dela pra cá. Pro meu computador. Eram coisas urbanas, coisas aeroportuárias, e Castro concentra-se dilui-se adensa-se, lugares, vários mas simultâneos, ela em silêncio, deter-se quedar-se (muy triste?), can’t complain, mustn’t complain, de novo a letargia, de novo, que fazer com este corpo. As mãos estendidas, ouvia-se uma máquina de escrever, sem a menção ao Naked Lunch, me esvazio de considerações, as mãos estendidas, como é: a mão do Willie, sim ou não, atrás do revólver ou da Winnie, socorro, as mãos estendidas, tesas retesadas tensas, o olhar morto motor, de que, o que uma máquina de escrever hoje, eu me lembro de você, quando você pegava aquela máquina, e escrevia nela, você lembra disso?, claro, deve lembrar, era você, você escrevia, você inventava coisas ali, pra mim era o mesmo que uma privada, mas pra você devia ser alguma outra coisa, eu também me lembro de você mijando, disso você não deve se lembrar, você faz isso o tempo todo, mas eu me lembro de uma vez, você bêbado, eu entrei pra ver você mijar, você me viu, não levou nenhum susto, nem riu, queria que você tivesse rido, eu teria gostado, mas eu cheguei perto, do seu lado, e te vi nu, mijando.

Isso não existe mais. Uma máquina de escrever. Ancestral remoto deste teclado. Television. Lindo, quem é Todd Alcott? Look at me. Look. Isso. O olhar desde sempre. Agora sim, dirija esse olhar a mim. É esse olhar. Requiem para um sonho. Não a Sara Goldfarb, mas quase, não encantado, mas encanado, e não desencana, o olhar, o Reality Show do Incal, do Moebius e do Jodorowsky, FEZES E MIJO. É você. Esse olhar opaco. Você entendeu. Não, don’ t look over there, there’s nothing to look at over there. You need to what? WHAT? EAT? FINE! Nada de dor. Quase nada.

Até aqui sim. Agora coisas que não compreendo. Os movimentos repetidos. O levantar a cabeça. Desconcentra-se, descentra-se, amua-se, amansa-se. Não compreendo porque são claras demais, eu lembro do verbete enciclopédico que trata delas. Tudo antes produzia esquecimento, agora eu me lembrava. Me lembrava da compreensão convencionada pelo nervosismo do cigarro às pressas. Claro, é vital lembrar do primeiro, não, não foi o primeiro, do segundo momento sem som. Este agora era o segundo momento sem som da cena. No primeiro ela acendia um cigarro. No segundo, nervosa, ela acende outros. Como é esse afeto? O silêncio? Perscrutar esse vazio terrível.

E as unhas, Laura? Eu não reparei, mas também isso não é bom? Afinal compunha, era, existiu, talvez tenha servido mais pra ti que pra nós. Mas se serve, que sirva. Seja como for, o amor é o amor. Mas, Leminski, merda, tem uma coisa sobre a qual eu não quero falar. Mas tão logo escrevi, mudei de ideia, não: talvez seja o caso de explorar como essas unhas. Se precisa, se não precisa, se precisa ser notado ou não, ou o que.

2 comentários:

  1. Errata: Não é o Seymour Hoffman nem é em Mary e Max. É um letreiro em Harvey Krumpet, um de seus Fakts. Também do Adam Elliot.

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