segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Emails (2)

























Felipe Sut <felipe.sut@gmail.com> 4 de ago
para Ian, Rodrigo, Laura, Bianca, Luísa

gente, é preciso que mandemos os nossos horários pra fecharmos essa fatura e termos somente o trabalho de ensaiar no hostel e divulgar a peça que já não será pouco.

lembrando que a parada lá é bom que role entre 14h e 22h
meus horários:

segunda: de 19h em diante (tenho paciente de 21 às 22h na segunda mas é possível trocar, de qualquer modo haverá um dia em que preciso atendê-lo)
terça: de 17h em diante 
quarta: de 18h em diante
quinta: de 20h em diante
sexta: tenho a tarde ok
sábados e domingos ok

temos que resolver se vamos gravar algum(ns) vídeo(s) de divulgação ou se entendemos que será trabalhoso demais e é melhor focarmos em outras coisas. Talvez, sugiro e quero saber o que vocês pensam, seja importante uma reunião pra discutirmos essas coisas, algo como uma reunião de produção. E é necessário que cumpramos os prazos que nós estipulamos, se não de nada servem os prazos, de nada servem as reuniões, de nada serve que sejamos responsáveis pelo que assumimos a responsabilidade. 

tive uma conversa agora com a Luísa falando sobre o cuidado com essa nossa peça, ou o carinho, palavra que Laura uma vez usou.

Sinto que o Insônia foi muito uma visada da vida segundo um tempo e contratempo da vida que vivíamos, e ok, uma certa clausura louca (é tão assim que às vezes me esqueço que o texto é do Graciliano e do Beckett e não nosso, ainda que de certo modo nosso), uma coisa autossuficiente mas ruim, uma bad trip dos infernos.

Eu vivo outra coisa hoje e esse é um dos motivos que me tem sido um pouco difícil estar por aí com o Insônia. Sustentar a posição que o Insônia coloca, algo como variações sobre o tema de que a vida é uma merda, um chafurdar na lama específico.

Enfim. Foi muito importante, senti, o último ensaio com Laura antes da viagem, porque de repente apareceu uma coisa que vinha não aparecendo. Uma lentidão, um ritmo que permitia alguma coisa que não estava sendo permitida, que estava sendo ignorada ou escondida numa palavra dita depressa, numa inflexão estranha. Agora não, agora havia uma tensão importante que se impunha com muita força.

Talvez esse o maior e melhor contato que podemos ter com a peça agora que já sabemos fazê-la. Abri-la pra fazer aparecer outras coisas.

Acho que a circulação com a peça já não será muito pra além do hostel e fitu e talvez hífen. Talvez alguns festivais interessantes que pintem por aí, mas não tanto algo que precisemos a toda hora procurar mostrar pros outros...não sei se isso é de um lugar tímido ou preguiçoso ou se realmente eu estou falando algo interessante. Sinto, e não sei se vocês também sentem algo parecido, que precisa-se de outras coisas. Não sei bem o que digo com isso...mas enfim.

Talvez o Insônia seja demais alguma coisa pra durar tanto tempo. As maneiras de durar são descobrir nele coisas que são difíceis de ver. Peter Brook fala de tornar visível o invisível...então temos o trabalho de tornar visível o invisível que insiste na invisibilidade no já tornado visível. Talvez seja mesmo muito fugaz...

E a peça é quase um manifesto contra a possibilidade de descobrir coisas difíceis de ver. A vida é uma merda e ponto final. Mas e se: A vida é uma merda e... ponto final. Isso é outra coisa, um mundo de diferença.

Em suma, sei lá, vamos sabendo juntos.
mandem os horários

beijos

Ian Capille <iancapille@gmail.com> 4 de ago
para mim

horários: 
só temos duas semanas até a re-estréia, o que quer dizer que é relativamente flexível pra mim.
O que é invariável é que trabalho 4/dia, sendo de manhã ou a tarde, normalmente de 14h-18h, se diferente disso, então tenho que avisar/perguntar, ou seja, o que quer que decidamos, precisa ser com antecedência.
Segundas eu tenho aula de manhã e de tarde.
Quarta tenho aula de manhã.

sobre o que você escreveu:
curioso. diria mais, curiosíssimo. Eu pensei algo parecido. Em resumo, pra não te repetir, associo/associava (ainda não sei qual tempo usar) o Insônia a uma certa bad trip (ótima escolha de palavra, tem aproximação com consumo de drogas) de que a vida é uma merda ponto. Talvez fosse mais que isso, mas pra fins de conversa, deixa o resto quieto. A vida é uma merda ponto. E isso era muito do que me perseguiu naqueles dias, em especial quanto mais próximo das apresentações e nas apresentações, era isso que me "preenchia" - :p - como ator pra atuar. A vida é uma merda ponto. Bom isso, muito bom. E talvez agora simplesmente eu não pontue mais desse jeito, como você já colocou. Outro lugar.

Mas naquele último ensaio - não sei se o último com a Laura, acho que sim - alguma coisa me bateu diferente e me pareceu que sim, eu ainda escrevo isso e ainda faz parte me "preencher" disso, mas esse meu outro lugar facilitava dizer aquele texto inicial, no que diz respeito às variações de tom que, pela primeira vez, eu achei que toquei em alguma coisa (que tivesse a ver com algum ponto que queria alcançar e não um certo "estado" que colocava o meu tom intuitivamente "no lugar" - ou próximo do "lugar"; não, pelo caminho inverso, algum certo controle que tinha a ver com esse outro lugar e com um domínio outro que não vinha de nada intuitivo, nem inconsciente, era deliberado e repetido - um beijo pro GC)

Bom, só isso. Em algum lugar que eu também não sei se é preguiça ou é honestamente uma percepção honesta de que a circulação da peça é isso que estamos vislumbrando agora. Mas acho isso principalmente por esse novo entendimento daquela mesma frase. Entendimento que com certeza vem da nossa pesquisa. Eu já disse que Crimenorme pra mim está na mesma pesquisa, mas de um outro ponto, algo pra uma câmera, claro.

Estou com dor de ouvido, vou parar por aqui.
Acho bacana a reunião de produção.

abraços,

ian


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