quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Anteontem ou mais antes

Turim, 2:20, insônia
Possível causa: dormi muito de ontem pra hoje e tomei 3 expressos durante o dia. Expressos italianos.
Sintoma grave: entrar no facebook pelo celular e escrever coisas no aplicativo recém descoberto chamado evernote: uma espécie de caderno de notas virtual que organiza suas idéias. Coisa simples, mas que tenho usado bastante.
Noite quente e suarenta (outra possível causa): suava, tirei a calça, ainda abafado e quente, abri a porta do quartinho que dá para uma sacada virada para o pátio interno (típico edifício italiano). Um pouco menos quente, mas agora escuto o barulho do ar-condicionado do quarto ao lado ligando e desligando, bem alto. Quando desliga, silêncio sério, nem carros (Turim não é tão grande e estou num bairro mais afastado), ligeira brisa, súbito acender de algum aparelho elétrico, coisas domésticas que ligam subitamente, automáticas, barulho de motorzinhos eletrônicos, volta o ar-condicionado. Só o fato de vir escrever aumenta a minha sensação de total insônia, porque se fosse média eu provavelmente teria preguiça. Pena que não possa assistir um filme.
2:59
O ritmo do mundo em volta não mudou. Alguém levantou para ir ao banheiro - escutei a descarga. Li um texto do Sut, festa, no blog do insônia, escrevi no meu diário, motor de ar-condicionado, art-condicionado, sugeriu o meu celular (o melhor de tudo é que estou digitando todo esse texto no meu celular, não existe coisa mais massante).

3:21
Fui ao banheiro no escuro - gosto de caminhar no escuro pelo apartamento, sem enxergar, devagar etc. fiz xixi, molhei o rosto. Fiz resoluções vazias do tipo: tenho que parar de fazer isso, quando voltar ao Rio vou fazer aquilo; coisas assim que sempre penso e nunca executo porque não é assim que a gente - eu, pelo menos - muda de comportamentos que não gostamos. O art-condicionado não para.
3:42
Breve cochilo, cheguei a sonhar (com a minha cachorra e com um passeio de carro, depois vozes falando ao mesmo tempo que se tornaram o zumbido do art-condicionado). Curioso: isso de um som do sonho se transformar num som da realidade nunca tinha rolado comigo. Já escutei que Nietzsche morreu em Turim, enlouqueceu, andava pelado pelo apartamento. Talvez seja só o filme do Bressane. Gosto desse filme. Um cachorro começa a latir em algum apartamento.
4:00
Quatro em ponto, o cachorro não parou. Nem o art-condicionado de ligar e desligar.
4:09
Tenho um problema de cera no ouvido esquerdo, as vezes, que faz com que eu não escute bem, um acúmulo estranho (tenho que ver um otorrinolaringologista).
O albergue-apartamento onde estou ecoa um silêncio grande, alto. Meu colega de quarto, da India, simpático, decidiu dormir no sofá da sala de estar por conta do calor, me deixando sozinho. Não é bem um quarto, mais um escritório estreito, com estantes de um lado com livros em italiano, na outra parede, quadros com desenhos de mulheres nuas (num estilo rabiscos de carvão de modelos-vivas), e dobrada no canto próximo da porta para a pequena sacada, uma tábua de passar. No Rio são 23h, as pessoas começam a me responder no facebook.
4:28
Vim para cozinha, quadrada, um dos lados tem uma sacada para a rua. No meio, uma mesa retangular. Estou fazendo um lanche, escuto um roçar num quarto próximo e vejo no pálido escuro uma das meninas chinesas chegar à porta na minha esquerda. Não a escuto bem, mas a noto de relance. Veste só uma blusa solta de alças meio transparente e uma calcinha rosa, leva um pequeno susto (é mais um sobressalto) com a minha presença, cobre-se tímida, nota que estou só de camisa e cueca, percebo que reflete um pouco - está avaliando, pesando calor X pudor (velha disputa) - volta ao quarto. Percebo que estou com as roupas coladas no corpo por conta do suor.
4:30
A menina chinesa volta, ela vestiu um shortinho de pano estampado com traços de desenho tradicional da china tão mínimo quanto a calcinha que está por baixo, o que é, no mínimo, engraçado. Ela me cumprimenta em inglês com um sotaque obscenamente incompreensível: o inglês é, com certeza, a língua com mais sotaques no mundo. Ela tem uma voz muito aguda, pele muito branca e cabelos lisos e negros: chinesa. É bem magra e alta e chega a ser bonita, o rosto gorduroso reflete a luz pálida da geladeira (ela pegou um suco de uma fruta que parece laranja, mas é horrível). Percebi agora que não acendi nenhuma luz, estava no breu, mas ela respeita essa escuridão, pega seu suco e se senta ao meu lado. (estou escrevendo enquanto ela faz tudo isso. Ela deve me achar um freak do celular). A mesa tem dois bancos, um de cada lado onde sentam 3, mas um dos bancos quebrou ontem o que nos obriga a compartilhar esse (cheguei um pouco pro lado pra ela).
4:40
A chinesa lentamente começou a puxar papo comigo, não para de falar agora, acho que eu só disse duas frases de sim e não, nem meu nome falei, ela se chama algo com Shen Mei (inventei) que quer dizer Amor Sincero, ou algo assim. Mas mal escuto o que ela está falando, estou escrevendo no celular, a voz aguda dela como ambiente sonoro e reparo mais no corte reto do cabelo dela, na maquiagem dos olhos que sobrou de ontem, nos seios mínimos foscos por debaixo da blusa meio transparente e colada de suor. Ela gesticula na minha frente um cigarro que cheira a algo que eu nao conheço, me oferece, recuso, ela insiste, diz que ajuda a dormir, inglês horrível, aceito: o troço é fortíssimo, tem gosto de frango ou frutos do mar, parece uma pasta nos pulmões, a cabeça fica mais leve em uma tragada, o corpo em duas e na terceira estou voando. A chinesa ri agudo e tampa a boca com as mãos.
5:13
Acordei na cozinha ainda sentado no mesmo lugar com a cara colada na mesa baba seca olhos ardendo visão claramente alucinada de cores fortes e luminosas semi-nu camisa colada no corpo cueca atirada no chão bunda reta na madeira do banco chinesa sumiu. Pensar dói, prefiro nem imaginar o que houve. Caralho, a chinesa me chupou. Melhor nem tentar entender, puta a chinesa me chupou, esquece, meu pau chega a doer, a chinesa me chupou e eu dormi. Cacete. O que? Amor Sincero de cu é rola. Eu dormi no meio de uma chupada. Sede imensa, bebo água da torneira. Deixa eu entender.
5:19
Ainda na cozinha. Enxergo tudo brilhar, meus olhos pesam, minha cueca está rasgada. Amor Sincero...Nesse cochilo sonhei com a minha ex-namorada, a gente falava de viagens, planejava coisas. Depois sonhei com a Laura. Vou escrevendo. Quero voltar pro quarto, saio da cozinha, o corredor é comprido a única luz vem da fresta de uma porta a direita caminho apoiando na parede com o corpo, segurando o celular com a mão esquerda e escrevendo com a direita, sentindo algumas farpas do banco na bunda e vento demais entre as pernas. A luz da fresta está vermelha.
5:51
Flashes: colega da Índia dormindo na sala, cozinha escura, luz fosca verde pastosa leitosa da geladeira vira um homem nu de máscara grega declamando poesia lírica. Massa pizza mais massa. Um recorte de janela toalhas lençóis cuecas como a minha um céu preto-azul como mar poluído e límpido. Luzes imaginárias sonhos eróticos solitários cheios de água. A chinesa beijando meu pau mole italiana desconhecida rindo rindo de mim do meu pau rosa cruz de luz azuis nos olhos nus da bela italiana, nos seios leio o meu alento, a minha mãe me chama ali, me deito leite leito me encaxo qual recheio nos seus peitos frescos fresca itália e sua filhas folhas fartas. Sol quentinho no meu berço de itália. Durmo e sonho com a Gal.
No fundo do peito esse fruto apodrecendo a cada dentada.

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