[seguindo 29/05]
Bruno
falando sobre a noção de a gente se curtir muito. Em cena ele vê a gente se
curtindo muito. Isso pra mim soa: O trabalho ainda tá muito masturbatório.
Lembrei da aula do Patrick, do Kléber Mendonça falando sobre o Tarantino, que
ele (KM) se amarra em ver os filmes do QT porque o cara (QT) se amarra muito em
fazer os filmes que faz, aí chegando quase, já não sei se foi acréscimo do
Patrick, a ser masturbatório. Enfim, os fins demoram pra cumprirem-se.
Pensei
que o Bruno estivesse falando disso. (Claro, fôssemos masturbatórios como o Tarantino, estávamos feitos, ou seja, não se trata exatamente disso. Mas não é completamente distante & distinto) Quase perguntei. Eu não perguntei porque
achei que sabia do que ele estava falando. Mas fiquei em dúvida. Ainda está pra
ser aberta a nossa curtida pro público? Seria isso? As quase nudezes de Ian e
Laura. As nudezes, trata-se também um pouco disso? A fruição injustificada de
uma nudez parcial? Injustificada? Pera, acho que estou me enrolando.
[inserido dia 02/06: No último ensaio percebi melhor o estatuto masturbatório do ensaio, uma hora me vi ansioso pela cena do Otis Redding. Simplesmente me vi lá, olhando a cena, o rosto do Ian tranvestido, rindo, a Laura dando o texto, a TV chiando, o Reinoso iluminando todos, e eu, embevecido, narcisicamente? a cena que dirijo, ora veja, isso? é isso? que mau. Que bom pensava eu, e eu querendo a curtida coletiva dos demais. Lugares misteriosos de prazer esquisito. A ideia do Bruno, temos pouco o que esgarçar, esgarçando, me ficou a imagem, rompe-se o nosso alguma coisa, a nossa ideia (? chega a tanto, chega a uma ideia?) de cena. Precisamos de mais. Ma-is.]
Why the name stop making sense? Because it’s a good
advice.
Às
vezes para o não sentido o sentido. Exterminate
all rational thought, that’s the conclusion I’ve come to. Um fim que nega
seu meio.
De
que maneira justificável? Contra referências: Peças excessivamente
fragmentadas, compostas de pequenos pedaços de uma massa amorfa que supõe dizer
alguma coisa. Supõe uma crítica de alguma coisa. Toda obra de arte se constitui
como crítica? Ou melhor, toda obra de arte quer se constituir como tal? (Cronenberg/Burroughs diz: todos vivemos a verdade escrota da vida, o escritor a vive como outro qualquer, a diferença é que ele escreve um relatório a respeito). Essas
peças, retomando o fio da meada, são auto curtições, sem o convite ao público
de entrar na parada. Estamos nesse mesmo patamar, ao não dar o sentido de
bandeja? Não, penso que não. Quer dizer, não por esse motivo, mas é possível
que estejamos no mesmo patamar. Não dar o sentido não pode significar um
segredo. Mas talvez algo que se aproxime do In On It, lendo no final da peça a
nota do MacIvor de o que era originalmente a história. Eu li aquilo e falei, pô
perde um pouco a graça. A graça da peça é bastante a confusão dos planos da
história, aí quando você lê que um dos dois morreu e o outro quis escrever uma
peça pro que morreu. Aí fica meio buh. Mas num lugar irreal, porque a peça não
é essa história. A peça mais admite essa possibilidade do que é isso. Eu por
exemplo gosto mais da confusão. Digressão.
Estamos
no mesmo patamar porque ainda não trabalhamos suficientemente sobre o sentido
para exterminá-lo. Quer dizer, queremos pular pro extermínio de todo o
pensamento racional, sem ter viabilizado tal conclusão, paradoxalmente, via o
mesmo pensamento racional. Não vale. Aí são formas, textos, pedaços, membros,
unhas, cabelos. E é fácil falar de não querer dar sentido, porque a parada já
nasce sem sentido, não existe um trabalho lapidar (arrancar as gorduras,
cortar, suprimir) de movimento contra, mas um nascimento casual de um soco.
Disse
o Melamed: a história de uma borboleta que se apaixonou por um soco. Era a
experiência que eu queria que tivesse o público da nossa cena. Sem querer
atribuir beleza intrínseca ao nosso público (borboletas, não, xô), mas a fragilidade tanto por ser
inseto, quanto por se colocar no lugar vaidoso de entendedor, seja de teatro,
seja do que quer que seja que se julgue entendedor. Lembrei do comentário do
Rubens Rusche acerca da encenação do Esperando Godot na penitenciária de San
Quentin, indo contra a noção do Esslin de teatro do absurdo, a espera, diz
Rusche, pra aqueles caras é algo cotidiano, normal, não há nada de alegórico ou
metafísico ou absurdo. E talvez menos que isso: Fábio de Souza Andrade quando diz que não se trata de reduzir a obra do Beckett a dicotomias, como realismo/ absurdo.
Mas, essa experiência é pra
fazer sentido, penso eu. Qual e como? E, ainda, é? Ainda que dificultemos o acesso, a experiência de
assistir não é conciliadora, mas abridora de fendas. Onde e de que natureza?
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