domingo, 2 de junho de 2013

A gente se curte muito ou apêndice ao sobre ensaios (4)

[seguindo 29/05]

















Bruno falando sobre a noção de a gente se curtir muito. Em cena ele vê a gente se curtindo muito. Isso pra mim soa: O trabalho ainda tá muito masturbatório. Lembrei da aula do Patrick, do Kléber Mendonça falando sobre o Tarantino, que ele (KM) se amarra em ver os filmes do QT porque o cara (QT) se amarra muito em fazer os filmes que faz, aí chegando quase, já não sei se foi acréscimo do Patrick, a ser masturbatório. Enfim, os fins demoram pra cumprirem-se.

Pensei que o Bruno estivesse falando disso. (Claro, fôssemos masturbatórios como o Tarantino, estávamos feitos, ou seja, não se trata exatamente disso. Mas não é completamente distante & distinto) Quase perguntei. Eu não perguntei porque achei que sabia do que ele estava falando. Mas fiquei em dúvida. Ainda está pra ser aberta a nossa curtida pro público? Seria isso? As quase nudezes de Ian e Laura. As nudezes, trata-se também um pouco disso? A fruição injustificada de uma nudez parcial? Injustificada? Pera, acho que estou me enrolando.

[inserido dia 02/06: No último ensaio percebi melhor o estatuto masturbatório do ensaio, uma hora me vi ansioso pela cena do Otis Redding. Simplesmente me vi lá, olhando a cena, o rosto do Ian tranvestido, rindo, a Laura dando o texto, a TV chiando, o Reinoso iluminando todos, e eu, embevecido, narcisicamente? a cena que dirijo, ora veja, isso? é isso? que mau. Que bom pensava eu, e eu querendo a curtida coletiva dos demais. Lugares misteriosos de prazer esquisito. A ideia do Bruno, temos pouco o que esgarçar, esgarçando, me ficou a imagem, rompe-se o nosso alguma coisa, a nossa ideia (? chega a tanto, chega a uma ideia?) de cena. Precisamos de mais. Ma-is.]

Why the name stop making sense? Because it’s a good advice.

Às vezes para o não sentido o sentido. Exterminate all rational thought, that’s the conclusion I’ve come to. Um fim que nega seu meio.

De que maneira justificável? Contra referências: Peças excessivamente fragmentadas, compostas de pequenos pedaços de uma massa amorfa que supõe dizer alguma coisa. Supõe uma crítica de alguma coisa. Toda obra de arte se constitui como crítica? Ou melhor, toda obra de arte quer se constituir como tal? (Cronenberg/Burroughs diz: todos vivemos a verdade escrota da vida, o escritor a vive como outro qualquer, a diferença é que ele escreve um relatório a respeito). Essas peças, retomando o fio da meada, são auto curtições, sem o convite ao público de entrar na parada. Estamos nesse mesmo patamar, ao não dar o sentido de bandeja? Não, penso que não. Quer dizer, não por esse motivo, mas é possível que estejamos no mesmo patamar. Não dar o sentido não pode significar um segredo. Mas talvez algo que se aproxime do In On It, lendo no final da peça a nota do MacIvor de o que era originalmente a história. Eu li aquilo e falei, pô perde um pouco a graça. A graça da peça é bastante a confusão dos planos da história, aí quando você lê que um dos dois morreu e o outro quis escrever uma peça pro que morreu. Aí fica meio buh. Mas num lugar irreal, porque a peça não é essa história. A peça mais admite essa possibilidade do que é isso. Eu por exemplo gosto mais da confusão. Digressão.

Estamos no mesmo patamar porque ainda não trabalhamos suficientemente sobre o sentido para exterminá-lo. Quer dizer, queremos pular pro extermínio de todo o pensamento racional, sem ter viabilizado tal conclusão, paradoxalmente, via o mesmo pensamento racional. Não vale. Aí são formas, textos, pedaços, membros, unhas, cabelos. E é fácil falar de não querer dar sentido, porque a parada já nasce sem sentido, não existe um trabalho lapidar (arrancar as gorduras, cortar, suprimir) de movimento contra, mas um nascimento casual de um soco.

Disse o Melamed: a história de uma borboleta que se apaixonou por um soco. Era a experiência que eu queria que tivesse o público da nossa cena. Sem querer atribuir beleza intrínseca ao nosso público (borboletas, não, xô), mas a fragilidade tanto por ser inseto, quanto por se colocar no lugar vaidoso de entendedor, seja de teatro, seja do que quer que seja que se julgue entendedor. Lembrei do comentário do Rubens Rusche acerca da encenação do Esperando Godot na penitenciária de San Quentin, indo contra a noção do Esslin de teatro do absurdo, a espera, diz Rusche, pra aqueles caras é algo cotidiano, normal, não há nada de alegórico ou metafísico ou absurdo. E talvez menos que isso: Fábio de Souza Andrade quando diz que não se trata de reduzir a obra do Beckett a dicotomias, como realismo/ absurdo. 

Mas, essa experiência é pra fazer sentido, penso eu. Qual e como? E, ainda, é? Ainda que dificultemos o acesso, a experiência de assistir não é conciliadora, mas abridora de fendas. Onde e de que natureza? 

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