segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Sobre a primeira vez que fizemos com estranhos

22/09

Ontem primeira mostra para estranhos. (Sensação do exibicionista no sobretudo. Ereções desbotoando a roupa.). Semi parto, parece. Pode ser. Quer dizer, não, um parto já, de outra coisa, que nos ajuda no parto futuro, de outra coisa ainda. (em relação a que, então, a primeira outra coisa é outra?)

Enfim.

O Marcos, pai da Laura, disse várias coisas. Uma já: linkei com um papo do Rodrigo Abreu, quando me perguntou do nosso tema, a respeito de ser a insônia e o insônia, a coisa e o conto. Eu ficava muito na coisa de o insônia fala sobre como a vida é uma merda, ou enfim, algo por essas redondezas. Também o Dias Felizes. Ontem com o Marcos enxerguei melhor (não mérito meu, afinal, ele quase desenhou na minha frente) do que quando o Rodrigo falou comigo. Enxerguei o quanto temos um universo pouco explorado a ser explorado, o da insônia. A gente ia nas pistas do Graciliano. Mas agora precisamos de mais que pistas. Enfim, temos mais que pistas. Mas precisamos de mais desses avanços sobre as pistas que já empreendemos. O cigarro.

Enfim.

O cigarro. Os vários deles, quem me dera ser assim, dom maravilhoso, só dorme. Caralho. Essas coisas que a gente demora a enxergar. Lembro de um amigo para o outro “Erotismo” “O quê?” “Erotismo” “O quê?” “Erotismo!” “Ah, erotismo” e ele brincou “A resistência é tanta né. Nem que eu desenhasse você entenderia.” Piadinha e tal. Na hora foi engraçado.

Mas ainda. Mais, ainda, (haha, o cara que cita títulos). Associo (Mutarelli). Mas ainda. O Marcos disse alguma coisa assim que eu adorei, deixar os caras num conforto, os caras = os atores, conforto não, xô, segurança, deixar os atores com segurança de se submeterem à insanidade dos personagens, ou de deixar ela chegar numa boa. 
Achei uma boa sentença. Claro. Não se trata de ir atrás de uma sentença cirúrgica. E aí tatuá-la. Mas essa é bacana, você há de convir.

Se bem que.

Vamos lá, não segurança, cinto de segurança, camisinha (camisinha talvez, trepar é bom, DST, não), segurança, não exatamente assim, prudência, talvez, o Peter Brook fala de certa inteligência necessária ao ator, não se trata de vamos numa de (pseudo) Artaud (ish), e sair se esgoelando e se jogando no chão, não, calma aí, isso porque é intenso, não necessariamente é verdadeiro, sim, a pergunta, então o que seria verdadeiro. Pois é. Mas aí são quatro horas da tarde num domingo e você vai assistir o jogo. E você vai pacientemente se encaminhando à TV. E pacientemente se senta no sofá. O que é verdadeiro. Divagação tristinha. Voltemos.

Quer dizer, ir numa de li a orelha do livro do Artaud, isso de ir na moral numa de Artaud como eu disse acima. Trata-se de uma ansiedade louca, quero me foder, e não foi isso que o Grotowski quis dizer com auto-penetração. Enfim. A segurança, a prudência, não vem do fato de que o ator em cena não se põe jamais em risco, alguma modalidade de risco, não. Mas do fato de que puta que pariu ele tem fazer aquela merda direito. Tem que ser cavalo dessa porra que baixa nele e que, não bastasse, ainda bota pra foder. E não pode receber toda essa desorganização sendo ele também desorganizado. É explicar pra confundir (ator-personagem) e depois confundir pra esclarecer (ator-personagem-público); (melhor talvez não falar de "depois", talvez sejam etapas que aconteçam, justamente, não exatamente como etapas, mas de certo modo processual, ligadas, enfim, o depois apareceu mais como o momento de mostrar ao público, que é posterior aos ensaios, mas não é desprovido de criação). Ou também a possibilidade: esclarecer é o caralho. Como sempre sei lá. Pode ser.

As meias do Ian.

Enfim.

O perigo. As coisas de corpo. Haha. Várias coisas tem uma coisa de mas hã, como assim? E não no bom sentido que a gente aprecia. Algumas, ou talvez várias coisas ansiosas, quer dizer, chegam, se apresentam e se precipitam ao seu fim, imperativas e curtas e grossas. Falei com eles, o que apresentamos hoje parece uma sessão de highlights da peça por vir.

Ou seja, (enfim, vale completar, quase um teaser) ou seja, há muitos pontos a serem aprofundados. Talvez quem sabe tenhamos umas pontas de algumas coisas, icebergs, talvez não seja estúpido demais dizer. Daí ainda melhor aprofundar. Mas também a superfície, dizíamos, eu com outra galera em outra parte, superfície sem ser superficial. Encorpar. A sensação de que devemos encorpar a cena. A peça.

Quando começa a rolar muito infinitivo assim fica meio chato. Creio que chega.

Nenhum comentário:

Postar um comentário