sábado, 19 de outubro de 2013

pensando alto (2)


14/10

[...]

Outra fala: tem o episódio do Charlie Hunter, ocasionado pela leitura do obituário que Bo faz. Ele ainda depois dispara uma outra. Uma senhora ou senhor que tenha morrido cuja morte ou missa de sétimo dia tenha sido registrada n’O Globo. A ideia é que Ba reagisse a qualquer nome com profundo amor. Profundo é até uma boa palavra. Não se trata exatamente de intenso. Mas de algo profundo, remoto, quase esquecido.

Precisamos trabalhar esse trecho. Trata-se de uma piada. E não penso ser uma tão difícil, ainda que difícil. Enfim, é isso aí. Gosto e casa com a situação. Estirar o jornal à frente, etc. O outro lá bolado no fundo. [19/10: estamos revisando as posições de cada um no espaço] O problema é parecer demais com início do dia. Perguntei pra eles hoje. Estamos com Bo e No com certeza de madrugada. Como é pra Ba, ela está ali com eles vivendo o dia da Winnie ou se referindo ao dia que virá mas na madrugada dos dois caras? Eles preferiram a segunda opção. Penso ok.

Terceira fala: [p.51] [vou digitar sem as rubricas pra não enlouquecer] [Coisa estranha, numa hora destas, lembrar de coisas assim/ Estranha?/ Não, aqui tudo é estranho/ Sou grata por isto, em todo caso/ Muito grata] / Abaixar e levantar a cabeça, abaixar e levantar, sempre assim/ E agora?/ Talvez seja um pouco cedo – para me aprontar – para a noite – o velho estilo! – e mesmo assim faço isto – me arrumo para a noite – sentindo que ela se aproxima – que vai tocar – a campainha de dormir – repetindo, Winnie, não falta muito agora, Winnie – para a campainha de dormir/ às vezes acontece de eu me enganar/ Muito de vez em quando/ Acontece, depois de tudo pronto, pelo dia, tudo feito, tudo dito, tudo acabado para a noite, e o dia longe de terminar, longe do fim, a noite ainda não se aprontou, está longe, longe de pronta/ de vez em quando/ é, quando sinto que está próxima, a campainha de dormir, e me preparo para a noite – (gesto) – e assim acontece de eu me enganar -/ - mas muito de vez em quando.

Havia um fragmento na embolação de falas entre Bo, Ba e No. Referente a um trecho do Graciliano. “A luz que varre o quarto é comum (...) Não (...) às vezes acontece de eu me enganar.” Não vou dizer que é de todo ruim, e que deve ser extirpado do texto. Porém, creio que é de vital importância que entre o depois de “tudo dito, tudo feito”.

Não sei em que momento pode entrar. Pensar. [19/10: já coloquei pra eles isso: acho esquisito, ou melhor, talvez não faça qualquer sentido a Laura falar "ah, o velho estilo". Talvez seja demais ignorar a aparência clara dela de 21 anos. Problema da campainha de dormir. De repente eu acho que possa haver alguma relação entre ela e a pergunta do GR. Ou não claro. Mas uma força que impele. Não sei.]

Quarta fala: Meu primeiro baile.

Em Beckett, ela vem de um dos anúncios que o Willie lê. A saber: Precisa-se de rapaz inteligente. Não me furto a pensar numa possível conexão entre ambas as manifestações. Não uma causalidade. É demais. Do tipo: ela fala do baile porque se lembra do rapaz inteligente que era o Johnson ou Johnston ou Johnstone. Sei lá, prefiro não. Isso vai na onda do tudo se encaixa. Mas em função da lembrança afetuosa do Charlie Hunter, ela vai na onda de outras lembranças ali do mesmo campo semântico. Sem falar que o Willie ajuda, rapaz inteligente, jovem dinâmico. Só que: após rapaz inteligente, Meu primeiro baile, beijo, Johhnstone; após jovem dinâmico, ela enfim coloca o chapéu (o que vinha tentando fazer, sendo interrompida pelas leituras de Willie) e retoma a leitura da escova de dentes. Por quê? Por que para?

Primeira coisa que penso: Houve o primeiro baile, o primeiro beijo, Johnstone, depois houve Willie e fim de papo (aquele trecho [p.63] “Ah, sei que você nunca foi de falar ‘Te adoro, Winnie, seja minha’, e depois daquele dia fim de papo, a não ser pelos anúncios de jornal”. Haha, muito bom. E isso no fundo do poço do segundo ato). Voltarei a isso, quem sabe, mais à frente.

E quanto à pedra no nome de Johnstone? Viajei baixo. Pensei qualquer coisa a ver com a atual condição da Winnie. Uou. Caralho. Entendi só agora o que o Guattari falou [Fala de passagem no "Devir mulher". Lá no "Revolução Molecular".]. Agorinha. Devir-mineral de Beckett (Isto é, acho que entendi. Mas, se entendi, devir mineral aqui, sim, mas não em qualquer peça. Ou, hum, tá, acho que entendi, mas é mais complexo que penso. Porque aqui é literalmente, ela sendo sucked up pela terra. Torna-se terra [torna-se, isto é, segundo a ideia de devir, relação entre as partículas de Winnie e partículas de terra, dir-se-ia, relações estabelecidas de lentidão e rapidez. Não é que ela agora seja terra. Não.], os sons de deslizamentos, desabamentos que ouve. A ver com a proximidade do rosto dela ao monte. Ela pode provavelmente ouvir os efeitos da dilatação da terra. Ah sei lá, futuramente se poderá refletir mais a respeito). Pô, bacana. Essa relação da Winnie com a terra. E a relação do Johnstone com a pedra. Mas que porra é essa? Luísa disse possivelmente dureza remetendo a ereção. Virilidade, homem viril, coisa que Willie não é, pode ser que já tenha sido, mas não é mais, sem dúvida. “Por que ele não a desenterra? De que ela lhe serve assim?”. Winnie e Willie, é mais que evidente, não transam tem um tempo.

Bom, viajei aqui. Enfim, em Beckett vem daí. Nós nos preocupamos pouco com isso.

Ba é jovem. Não é casada. [19/10: Ou melhor, isso não entra em questão. Ou ainda, pelo menos não como entra em Beckett.] Está ali, ok. A ideia é que quando No pegue-a firme pelos braços, ela de costas pra ele, ele segurando-a firme, erguendo seu tronco que debruçava-se sobre suas pernas, isto é, o tronco de Ba sobre as pernas de Ba, à frente do seu, isto é, o tronco de Ba à frente do tronco de No, as costas dela contra seu peito, à frente dela Bo com cara de assustado e excitado, ela esgarça a boca num sorriso, Bo se anima com a aparente aprovação que recebe dela.

Aí é vulgarzinho mesmo e é isso aí. Sem falar que é uma piadinha nefasta também, se quiserem. A rispidez e a força de como é agarrada a remetem ao primeiro baile. Ao primeiro beijo. Bai-le. Fala-se baile ainda? Sinto que é uma palavra que pra lá de não pertence àquilo que se usa chamar de minha geração. Festa. Não é assim que se diz?

Ah mas que idiota, sut, sério?

É. Uhum. A respeito de botar a fala da Winnie aí onde eu falei, você diz?

É. Sério mesmo?

É, sim, é essa a ideia. Assim, não acho genial nem nada, mas curto. Acho uma costura bacana. E enfim, depois rolam umas paradas.


[...] 

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