domingo, 12 de maio de 2013

sobre ensaios (3)


















04/05

(Tom Zé – O tribunal do feicebuqui, O Terno - 66)

Ontem muito interessante primeiro ensaio com a Laura. Primeiro também após o recesso, e após por no forno as primeiras ideias provocadoras de uma dramaturgia que se pretenda sólida. Sólida, não solada. Sim. Pois é o mais fácil, com o perdão da imagem boba, e do esforço chato na forma da língua (lembrei do encarte do Lamb Lies Down on Broadway, “the rhyme is planned, dummies”, então encarem como piada inofensiva sem problemas). É mais fácil suplantarmos a relação entres esses três corpos em prol de dizer o texto. Não me leve a mal, em outra parte, de modo algum longínqua e remota, faria sentido e culminaria numa linda cena. Aqui não, aqui é recusar-se a fazer o que nos propusemos a fazer.

O amor perdido, o amor desperdiçado, o amor pela culatra. Fiquei tentando traduzir Loss of Love. Ou Loveless. Pensava nisso pra caracterizar a relação do Aquiles, Pátroclo e Briseida no Troia, pós Briseida entregue ao Agamêmnon, quer dizer, pós e durante a entrega (ainda que se possa achar demais falar de amor aí, mas foi a experiência que eu vivi nos ensaios do Troia). O que só piora quando o Pátroclo morre. Lembrei de o Idiota, não lembro do nome do personagem, o do o que é felicidade e ele respondia planilhas, mais tarde ele se fodendo, meio humilhado por todo mundo, ele odiando o príncipe, o Idiota, ele na casa de veraneio da família da Lisavieta, tenta se matar, ou melhor, saca uma arma e diz que vai se matar, e o próprio príncipe, o Idiota, o demove da ideia. Sobram-lhe humilhações após essa cena patética.

Precisamos buscar na cena este estatuto patético, bem como, pra isso devemos ler possivelmente o texto do Kott sobre o Rei Lear e o Fim de Jogo, o grotesco, algo que provoque o riso, e por fim e por início o lamento estanque o debulhar-se chato, mas que não fique chato, a abordagem do GR é interessante, devemos a ele não deixar o texto num lugar em que o critiquemos, ou melhor. Apropriar-nos do texto de modo tal que a crítica endereçada a ele (GR) seja aquela não a que se esforce por fazer caber um humor inusitado ali. Onde cabe a angústia. Mas a crítica de que aquele sujeito não é um coitado, mas alguém que apesar de compactuar com subscrever-se no contrato cotidiano é alguém que sente que algo o assassina gradualmente, apesar de não compreender o que seja, uma gravata uma pergunta um nada.

Também o humor do ridículo.

A hipótese de começar a cena com o Me diga que vivi mais meia hora dentro deste horrível jato de luz. Encontrar os modos de não serem apenas a Laura e o Reinoso conservados numa posição imune à humilhação. Os corpos esticados e subjugados ou enfim, dentes arreganhados num sorriso, num riso débil, seja o que for.

Achei a cena com momentos lindos. Embolada, claro, quase sempre fica, estados ainda a ser aperfeiçoados, claro, quase sempre, mas gostei do jogo de estados entre os três. Entre os três, resignação: Ian – resignação que julga ir contra o que lhe é imposto, mas nada faz; Reinoso – resignação, porque tem o know how de como agir subjugado; Laura – resignação, apenas deseja que não demore muito.

Vi Willie e Winnie. Não sei quem, quem. Mas vi, love is lost lost is love. A música do David Bowie, só lembrei, não sei se tem de fato a ver.

Cuidar pra não irmos na cena numa direção diferente da do conto. Ou excessivamente diferente, se você preferir.


Amor humilhado, o solilóquio do ser ou não ser, na tradução do Millôr. Não sei se é tão a coisa, mas talvez seja melhor que a coisa. Amor humilhado.

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