23/09
título a partir de ótima piada do Ian.
http://www.youtube.com/watch?v=p7KLvG4h5rI
Ontem
foi o exercício do você não entende nada mesmo. Ou eu não entendo nada mesmo. Você
de sua parte você entende (?). Entendeu, quer dizer, na medida em que enfim. Essas coisas.
Me
explico.
Aí
eu ficava pensando: por que no primeiro dia eu falava e no segundo fiquei bastante
calado? Limitando-me a um eventual comentário sarcástico? Ou às vezes nem mesmo
sarcástico, só tentando ser engraçadinho. Talvez hum a natureza dos comentários
feitos, quer dizer, os comentários de quem assistiu.
Não
eram bem quem esperasse (i.e., os comentários) resposta. Sim ou não? Sei lá.
Uma
coisa primeira que me pegou vamos a ela. A imagem que o Bruno nos trouxe, creio
que uma segunda vez, das portas.
Diz
ele a respeito do processo que estamos diante de portas. Tem uma principal que
queremos destrancar, sempre, a todo custo. E que podemos ficar tão empedernidos
aí que nem sequer percebemos que outras ao redor se destrancam. Penso ok. Isso
pra falar um pouco do processo colaborativo. Enfim. Ele nos trouxe essa imagem
há um tempo atrás, quer dizer, a ideia dessa imagem, falando de processos que
se encaminhavam para lugares completamente diferentes daqueles planejados
inicialmente. Ok. Achei bacana. Pensei é isso. Aí lembrei do Paciente Estevão.
Que era originalmente o projeto de um Hamlet. Tinha Yorick no título e tal. Aí
eles foram atrás do Sam Lipsyte. E virou O livro de Itens do Paciente Estevão.
Havia lá suas menções ao Hamelt porém.
Aí
começamos a enveredar por caminhos mais virgens. (Mais virgens? Oi? Virgens é
ou não é. Não é quase ou semi.) E nos embananamos um pouco. Muita informação.
Desviamos, fizemos diários, vimos muita coisa que talvez tivesse a ver, coisas
que foram importantes, verdade seja dita, talvez não para o nosso processo, mas
pra gente, eu, Luísa, Reinoso, Ian, Laura. Nós enquanto nós. Foi bacana e
divertido.
Tá,
tudo muito bem, mas e a peça?
Pois
é. Aí tivemos que voltar a tentar destrancar a porta.
Enfim.
Enquanto
eu escrevo eu consigo sentir uma manada de vozes se aproximando dizendo que eu
não entendi nada. Que a imagem das portas não é isso. Que se não deu certo, é porque nós não fomos
pelas portas certas. Mas como eu já estou acostumado a me dizerem que eu não
entendi as coisas, eu vou seguir nesse raciocínio.
Eu
tenho uma ideia que é a seguinte. Cada vez que eu saía dos ensaios extremamente
angustiado com as coisas de que se precisava dar conta, eu sentia que era o
caminho certo. Ou melhor, um caminho certo. Cada vez que eu sentia um extremo
conforto, eu ficava preocupado, quase como se estivéssemos estagnados num ponto.
Que se eu queria conforto eu não devia estar ali. Que, isso eu concordo com o
Bruno, se a gente só se curtia, a gente não precisava exatamente fazer isso com
outros olhando. Que a nossa onda era meio masturbatória mesmo e paciência.
É
aí que eu penso na tal da porta. Enfim. Agora chega, a verdade é que eu acho a
imagem das portas ruim. Porque posso usá-la muito bem para ideias opostas. Como
uma boca, que come e vomita. Se alguém falasse pra gente, vocês têm que ser que
nem a boca que come. Ok, mas a boca vomita. Sim, mas vocês têm que ser só a
boca que come. Mas só a boca que come não existe. Enfim. Viajei.
Eu
acho que há aqui uma ideia fixa que é importante ser mantida. Eu só consigo
trabalhar com a dificuldade. E a dificuldade da porta fechada. Porque as portas
abertas desembocam em outras portas fechadas que podem fazer eu querer me matar
tamanha a dificuldade que elas encerram. Falamos de performance. Pensávamos um
pouco na performance como solução. Solução? Forte. Mas como um instrumento. Sei
lá. Mas porra, só a ideia de trazer esse trabalho traz uma enorme série de outras dificuldades. Inclusive nos distrairmos
das nossas dificuldades velhas. Boas e velhas.
Enfim.
Já já vou parar de falar de portas. Porque na realidade é impossível abrir essa
porta. É impossível abrir a última porta. Talvez a gente precise arrancar uns
pedaços lanhando os pés, as mãos, as unhas, (porra, não há nada de bonito nisso)
pra ver o que tem do outro lado, mas a porta inteira não dá. Esse é um pouco o
processo do desejo. Não é disso que estamos falando?
Borges
apud Mutarelli. Só um deus pode
prometer. Nós porque não vimos tudo, também não daremos tudo. E será algo,
espero, que sobre, que não fecha. Porque nós não fechamos (o sentido. E não
abrimos a porta).
**
The
unending gift
Um pintor nos prometeu um quadro.
Agora, em New England, sei que morreu. Senti, como outras vezes, a tristeza de compreender que somos como um sonho.
Pensei no homem e no quadro perdidos.
(Só os deuses podem prometer, porque são imortais).
Pensei num lugar pré-fixado que a tela não ocupará.
Pensei depois, se estivesse aí, seria apenas com o tempo uma coisa a mais, uma coisa, uma das vaidades ou hábitos da casa; agora é ilimitada, incessante, capaz de qualquer forma e qualquer coisa e não atada a ninguém.
Existe de algum modo. Viverá e crescerá como uma música e estará comigo até o fim. Obrigado, Jorge Larco.
(Também os homens podem prometer, porque na promessa há algo imortal).
**
E
como é para um homem prometer?
Isso
é um ponto.
Outro
vou encurtar. A respeito do público. Vou como DeLillo. I understand none of this.
Quero
que pegue. Não me lembro quem disse isso. Mas existe uma coisa a respeito da
expressão. Vá ler a História do Olho. Mas, senhor Bataille, qual público você
quer atingir? Como você quer atingir o público? (Afinal de contas, ficar por aí
falando de cu e boceta e pau e porra. Enfim.) Ou caso fique parecendo que
estamos nos comparando com Bataille. O Sterblitch se autodepreciando, “Não
existe possibilidade de sucesso pra mim”, e elaborando interpretações de outrem
a partir disso “Ah bacana, ele tá se autodepreciando pra na verdade falar que
blá blá blá” e completa “Não. É só que não existe possibilidade de sucesso pra
mim”. Existe uma coisa a respeito da expressão. Temos uma coisa a exprimir. Não
podemos ter papas na língua, e sim, como quer Mattoso (eu de novo cavalo do
cara que cita títulos) línguas na papa. Por quê? Porque temos que ir atrás de
alguma verdade no que fazemos. Ham, “verdade”? Bom, ideia difícil. Mas enfim.
Temos algo a exprimir. Existe um problema que é, mas será que isso é tão
interessante quanto pensávamos? Pensei isso vendo algumas peças que pareciam se
parecer muito com algumas coisas do Insônia, que, não obstante, eu achava uma
merda. E pensei, mas porra, eles tão falando das coisas que eles querem falar, não devia ser bom? Pois é. De novo a
porta. Não, chega de porta. (Chega de barco. Associo.) De novo, a angústia.
Porque aí basta fazer terapia. Você chega, fala umas paradas, e vai sacando
outras. Mas o espaço de verdade de uma peça é de outra ordem. Enfim. Tô
viajando.
[inserido em 12/10: pensando em Grotowski e ouvindo coisas por aí fico menos certo de que uma coisa não participa da outra, isto é, uma espécie de auto análise não participe do processo artístico (e vice-versa, resta saber mais exatamente o que se quer dizer com processo artístico, deixo pra outra vez). Enfim, é interessante pensar que nos fundamentos do processo criativo há a preocupação com o cuidado de si. Que não é a ego trip. Enfim, algo por aí. Abouts.]
Eu
gosto de imaginar pra essa sugestão do Bruno uma pergunta de múltipla escolha.
.
Como você quer que o público receba sua peça:
a) Por
uma via afetiva;
b) Por
uma via intelectual;
c) Por
uma via mista;
d) N.R.A
Novamente
ouço a manada. Passadas de elefantes. Antes de tudo eu me recuso a responder.
Mas houvesse uma arma à minha cabeça, experiência de algum modo próxima à de
ontem, não de modo algum em função de uma suposta hostilidade dos presentes,
que, ao contrário, foram extremamente solícitos, e eu agradeço novamente a
solicitude, (talvez sim, ao invés, numa hostilidade da minha recepção de uma ou
outra coisa – via afetiva), eu ficaria com a opção d.
Sem
mais. Porque já deu.
Quanto
a isso, isto é.
Leo
Hinckel. “Não sinto falta de texto no Reinoso e na Laura”. É,
isso me fez pensar. Isso me devolveu a angústia, a boa angústia.
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