Depois do ensaio de segunda, 16
Tem um tremor que me antecede os começos dos ensaios, um tremor conhecido, frio na barriga, na espinha, deve ser, quando vejo o palco vazio e recebe-se uma direção normalmente simples, de começo, andar pelo espaço, isso e aquilo, e olho pro espaço vazio e começo. Essa frase foi longa e mal escrita. Não mereço isso.
Tem, a partir desse começo com tremor estranho reconhecido (frio na barriga ou espinha), uma energia sexual forte em como se anda, se olha, se toca (claro) etc. O Reinoso sempre sabe andar pelo espaço do jeito certo. Talvez por esse prazer em ensaiar eu ache que o que estou fazendo está certo.
Acho que o palco precisa de 3 pessoas para equilibrar; simultaneamente, também acho que quero ensaiar só eu e Laura antes de sábado.
Depois do ensaio de terça, 17
Tem uma presença escura escusa que se movimenta, não é invisível, é a própria não-visão, sabe, o próprio escuro. Um peso preso que atravessa o palco como um dinossauro rex passando perto (os copos de água e de gelatina tremem). Como é mesmo aquela frase do ciúme, sut? Aquilo é mesmo muito certo, não é? A nossa relação ainda não está muito clara pra gente, Laura diz, e eu penso em atos falhos. E a frase do silêncio, qual é? E a frase do corpo, sut, qual é? Fala alguma coisa, sut. Está falando comigo? O limite do foda-se e do cuidado é a origem de toda e qualquer moral, não? Não estou entendendo, talvez porque não queira entender, acho esnobe, fácil. Temos que tomar cuidado com egotrip, eu disse depois pra Laura. O ensaio tinha sido um estranho retorno pra mim, esses últimos três ensaios.
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